MIND HEALTH - SAÚDE MENTAL

22 de março de 2019

MIND HEALTH - SAÚDE MENTAL
O abuso de medicamentos psicotrópicos na contemporaneidade

A questão do inegável abuso que hoje se verifica no consumo de medicamentos psicotrópicos está a demandar séria reflexão. É fato consabido que, ao grave problema da automedicação, acresce-se uma prescrição excessiva, em especial dos ansiolíticos e dos antidepressivos, por parte dos médicos. O exame de uma possível interrelação entre essefenômeno e determinados aspectos de nossa cultura

O OUTRO. Segundo Birman (1999), a tendência moderna de construção da subjetividade em que o Eu se encontra situado em posição privilegiada leva a um autocentramento do sujeito. A subjetividade, no início da modernidade, tinha, como eixos constitutivos, as noções de interioridade e de introspecção. Sua moral, seus sentimentos e vivências íntimas definiam o homem. Atualmente, a exterioridade é o valor. Os signos externos, como os bens de consumo, são os delimitadores do que cada um é. Assim, a subjetividade assume uma configuração decididamente estetizante, em que o olhar do outro passa a ocupar uma posição estratégica na economia psíquica do sujeito. Os destinos do desejo assumem uma direção marcadamente exibicionista e autocentrada. Há, então, uma auto-exaltação desmesurada da individualidade num mundo de espetacular fosforescência. O que se procura é o engran-decimento da própria imagem.

A IMAGEM. Maia e Albuquerque (2000) definem a sociedade contemporânea como a da cultura da imagem, em que o instantâneo e a busca pela satisfação imediata e contínua dos desejos são os valores predominantes. O imediato é valor que permeia vários aspectos da cultura e constitui qualidade essencial a qualquer bem a ser consumido. Os sofrimentos, como a ansiedade , a angústia e a tristeza, que sinalizam circunstâncias e situações humanas e para elas preparam o homem, são aplacados pela medicação. “Busca-se permanecer no estado de prazer e alegria, ao preço de se eliminar parte da experiência humana. É como se, socialmente, não se reconhecessem mais a dor e a frustração como constitutivos do percurso rumo aos ideais de prazer e alegria. Dor e frustração deixam de ser indicadores dos limites inerentes à experiência daquele sujeito singular. Ou seja, veicula-se a idéia de que essa imagem ideal de pleno prazer está disponível para todos a mínimo esforço e que a não concretização desse modelo decorre de problemas particulares daquele sujeito” (Maia e Albuquerque, 2000, pg.83).

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A publicidade é, a esse respeito, paradigmática: traz, ao consumidor, promessas de felicidade e de satisfação absolutas. Nas imagens veiculadas, há sempre um sorriso estampado nos rostos, de plastificada beleza, que vende a proposta de viver um prazer contagiante.

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O IMEDIATO. Penetra-se, então, no universo das drogas: das drogas ilícitas ou dos medicamentos prescritos pela Psiquiatria; participantes, tanto uma quanto o outro, do mesmo universo, na medida em que visam a tornar o Eu apto ao exercício da cidadania do espetáculo. Enquanto as chamadas drogas pesadas têm por fim a exaltação nirvânica do Eu, inebriando a individualidade para o desempenho na cultura da imagem, as drogas ditas medicinais pretendem, ao conter angústias e sentimento, capacitar o indivíduo para as mazelas do narcisismo.

Créditos Marta Regueira Fonseca Pelegrini - Psicóloga formada na Universidade de Brasília, Pós-graduação: Especialização em Teoria Psicanalítica, Mestranda em Psicologia Clínica na Universidade de Brasília. Trabalha em consultório particular e na Clínica Renascer para dependentes de drogas, Formação em Psicanálise pelo Percurso Psicanalítico 

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